Mineradora SAM apresenta Projeto Bloco 8 na Câmara de Montes Claros
Unidade chinesa prevê investimento de cerca de 2,1 bilhões de dólares até 2025 e geração de mais de 6 mil empregos com extração de minério de ferro no Norte de Minas
Por JERUSIA ARRUDA
A Câmara Municipal de Montes Claros recebeu nesta quarta-feira (16/03) a diretoria executiva da empresa de mineração Sul Americana de Metais (SAM), unidade da chinesa Honbridge Holdings, para apresentar aos parlamentares o Projeto Bloco 08, que prevê a extração de minério de ferro no Norte de Minas.
Com capacidade para produzir anualmente 27,5 milhões de toneladas de ferro com teor de 66,2% e investimento de cerca de 2,1 bilhões de dólares até 2025, a estrutura do complexo minerário está prevista para ser instalada na região que engloba os municípios de Grão Mogol, Padre Carvalho, Fruta de Leite e Josenópolis.
De acordo com o presidente da Câmara, vereador Cláudio Rodrigues, a apresentação é importante que os vereadores possam conhecer o que está previsto no projeto. “Precisamos entender como o projeto irá impactar a região, por isso é importante estabelecer esse diálogo”, justifica.
Licenciamento
Conforme o CEO da mineradora, Jin Yongshi, o empreendimento está aguardando a liberação do licenciamento ambiental para iniciar a instalação. “Estamos trabalhando há dez anos para viabilizar o projeto na região”.
De acordo com o gestor, em 2019 a SAM assinou com o Governo de Minas um Protocolo de Intenções e em 2021 assinou com o MPMG um Termo de Cooperação Técnica para a contratação, por parte da SAM, de equipes indicadas pelo MPMG para realização de trabalhos técnicos para compreensão dos aspectos de engenharia, ambientais e sociais do empreendimento.
As análises permitirão que o Ministério Público Estadual conheça mais a fundo o Projeto Bloco 8, entenda as soluções e novas tecnologias propostas e, se for o caso, possa fazer contribuições que reflitam no desenvolvimento sustentável da região de implantação do empreendimento. “Isso ocorrerá concomitantemente ao processo de licenciamento executado e sob responsabilidade da Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais”, completa.
Segurança
O vereador Rodrigo Cadeirante destacou que devido às tragédias de Mariana e Brumadinho, a simples menção à palavra mineração já causa certa apreensão e preocupação. “É claro que a gente vê com bons olhos o projeto e sabemos da sua importância para o desenvolvimento da nossa região, mas é importante esclarecer sobre as estratégias para garantir a segurança ambiental, para que possamos ficar tranquilos e também tranquilizar a população”.
Ao apresentar o detalhamento do projeto, Gizelle Andrade Tocchetto, diretora de Relacionamento e Meio Ambiente da SAM, explicou que a área do complexo minerário é de cerca de 8.500 hectares e integra a mina, a usina de tratamento, duas barragens de rejeito, muro de contenção e uma barragem de água no Rio Vacaria.
De acordo com a diretora, o alteamento da barragem utilizada será por linha de centro. Entre outros dispositivos de segurança, para evitar a ocorrência de infiltração e consequentemente de qualquer possibilidade de rompimento, essa estrutura terá um filtro vertical que acompanhará todo o seu corpo central.
Durante a operação, este corpo será separado do espelho d’água por uma área seca de rejeito com uma distância mínima de 400m. Essa distância faz com que a barragem se mantenha sempre livre de infiltrações, e cada vez mais estável.
Gizelle Tocchetto explica que esse rigor na construção da barragem de rejeitos e as soluções desenvolvidas visa garantir proteção para as comunidades e municípios. “No Projeto Bloco 8, a cava, onde ocorrerá a extração do minério, estará localizada logo abaixo da barragem de rejeitos, se configurando como um dispositivo de diminuição de risco na operação do projeto, uma vez que seria o primeiro lugar para onde o material escoaria, num caso hipotético de rompimento. Para evitar a concentração de pessoas na área, de operação da futura cava, serão utilizados máquinas e equipamentos que operam por controle remoto”.
Ainda de acordo com a diretora, aproveitando sua localização, a SAM projetou um muro de contenção logo após a cava, onde, num caso hipotético de rompimento, todo o material ficaria restrito e confinado dentro da área da empresa, evitando que qualquer onda de rejeito atinja as comunidades.
Apoio social
A vereadora professora Iara Pimentel questionou sobre as alternativas para atender as comunidade geraizeiras. “Além dos impactos ambientais, também temos a preocupação com as comunidades tradicionais que vivem nessa região, e que terão que sair de suas terras para dar lugar ao projeto de mineração”.
Segundo Gizelle Tocchetto, a SAM construirá a barragem de água do rio Vacarias, nos municípios mineiros de Padre Carvalho e Fruta de Leite que permitirá a disponibilização de água às comunidades locais. “Com distribuição prevista pelo Governo do Estado haverá uma quantidade de água disponível que permitirá o atendimento de mais de 640 mil pessoas por dia, superior à população de Montes Claros, com cerca de 400 mil habitantes”.
Gizelle explica que a pós a sua construção, a SAM realizará, em conjunto com o Governo de Minas, um projeto de irrigação de 950 hectares para fortalecimento da agricultura familiar na região – uma demanda da população rural local. “A empresa distribuirá os kits de irrigação e a proposta é incentivar culturas que possam ser adquiridas pela própria mineradora em suas atividades. Um exemplo é o milho e mandioca que serão utilizados em forma de amido no processo de concentração do minério”.
A SAM construirá ainda outra barragem de água, no Córrego do Vale, especificamente para atendimento ao Vale das Cancelas, atualmente com cerca de 2800 moradores. A expectativa é que a unidade produza água suficiente para atender até 10 mil pessoas no local.
Na fase de implantação, o empreendimento vai gerar 6.200 empregos diretos, e na fase de operação, 1.100 empregos diretos e 5.600 indiretos, com geração de taxas e impostos com a folha salarial, encargos sociais, benefícios e despesas correlatas, ISS, ICMS, PIS, COFINS e CFEM, além das compensações ambientais, conforme a Lei do SNUC, que prevê que o valor de até 0,5% do investimento total do projeto (cerca de R$55 milhões) seja aplicado em ações de preservação ambiental, entre outras.
“É um projeto de grande porte, mas com muito lastro, instalado numa plataforma inteligente, que irá contribuir para o desenvolvimento regional, com inovação, segurança e efetivo viés social e ambiental”, completa.
A diretora diz que a proposta é que o minério extraído seja transportado por mineroduto até o Porto Sul, em Ilhéus/Ba. “Esse mineroduto não intercepta nenhuma unidade de conservação”, destaca.
Parceria
Ao final da reunião, o presidente da Câmara, vereador Cláudio Rodrigues apresentou uma proposta para que os cursos e treinamento do pessoal contratado pela SAM para trabalhar no Projeto Bloco 8 sejam realizados em parceria com a prefeitura de Montes Claros, nas estruturas da Fundação Educacional Montes Claros (FEMC). “É um espaço com estrutura pronta e de altíssima qualidade, e que vai facilitar o acesso para os trabalhadores”, ressalta.
O vereador Edson Cabeleireiro também solicitou ao CEO Jin Yongshi o apoio da mineradora para projetos esportivos. “Montes Claros é a principal cidade da região e uma das principais do estado, e não conta com um time de futebol, justamente por falta de apoio”, justificou.
O gestor da SAM disse que irá analisar a possibilidade de parceria para realizar os cursos na FEMC, e que a mineradora está aberta para avaliar todas as propostas para apoiar projetos sociais, esportivos e culturais que forem encaminhados.
Participantes
Além dos parlamentares, também participaram da reunião o Secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico de Montes Claros, Edilson Carlos Torquato; e Cristiano Duarte e Denilde Lepore, respectivamente, coordenador socioambiental e secretária-executiva da SAM.
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