Audiência traz medidas para retirar gradativamente os veículos com tração animal
POR CHRISTINE ANTONINI
A Câmara de Montes Claros realizou, na noite desta quinta-feira (1/7), audiência pública para discutir a retirada gradativa dos veículos com tração animal no município. O evento foi realizado pela vereadora Ceci Protetora (PP) e trouxe algumas alternativas para situação que envolve maus- tratos aos animais, poluição do meio ambiente e questões sociais, uma vez que os carroceiros necessitam desse meio de trabalho para sobreviver.
A proponente da audiência, mostrou vídeo com diversas cenas de maus-tratos aos animais que fazem o serviço de tração. As imagens mostraram cavalos machucados, soltos nas ruas e alguns caídos por não conseguir puxar a carroça.
“Essas situações sempre chegam a mim, infelizmente não são todos os casos que conseguimos salvar. Além dos maus-tratos, cavalos soltos provocam acidentes e espalham lixo – é uma questão que precisamos discutir para criar políticas públicas voltadas para o assunto”, destacou a vereadora Ceci que atua na proteção animal há 18 anos.
De acordo com a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Montes Claros possui cerca de 1.700 carroceiros e 10 Centros de Apoio Simplificados para Carroceiros (Cascos). O vice-prefeito Guilherme Guimarães pontuou que essa questão engloba várias situações e que antes de iniciar o projeto de retirada é necessário estudar a causa.
“Precisamos fazer levantamento do perfil social desses trabalhadores, conhecer as necessidades de cada um, e a partir deste diagnóstico, pensar em soluções para todas as categorias”, ressaltou o vice-prefeito que também é secretário de Serviços Urbanos.
O secretário de Meio Ambiente , Soter Magno, enfatizou que o município quer atender os dois lados: proteção animal e o social. Ainda segundo ele, não são todos os carroceiros que maltratam os animais. “Temos que lembrar que na cidade tem pessoas que utilizam o serviço de tração animal e não são carroceiros, não vivem disso”, pontuou o secretário.
O presidente da Associação de Carroceiros de Montes Claros, José Aparecido, afirmou que se for proibido o uso de carroças, muitas pessoas ficarão sem emprego. Segundo ele, a situação dessas famílias já é precária, e que alguns colocam papelão no feijão, pois não tem o que comer.
“Além de ser uma tradição da nossa cidade, a carroça é nosso principal meio de trabalho – é uma profissão passada por gerações. Foi em cima da carroça que consegui formar meus dois filhos e dar uma vida digna para eles”, explica o presidente.
Ainda segundo José Aparecido, não se pode generalizar que exista maus-tratos por parte de todos os carroceiros. “Eu mesmo trato meu cavalo como um filho, pois é ele que me ajuda no sustento da minha casa – terminou o serviço dou banho e ração”, finaliza o carroceiro que denunciou maus-tratos por parte do município quando recolhe os cavalos na rua.
PROJETO EM JUIZ DE FORA
Uma das convidadas para a audiência foi a advogada Brenda Sampaio, especialista em causa animal. Ela apresentou o projeto implantado em Juiz de Fora onde não existem mais veículos com tração animal – a retirada dos carroceiros começou em 2014 e foi concluída em 2019.
“É algo para fazer aos poucos com políticas públicas voltadas para a categoria. Em Juiz de Fora capacitamos os carroceiros com habilitação de moto, para que eles pudessem continuar o serviço, só que mecânico – na moto é acoplada uma 'carretinha' e assim o trabalho não foi perdido”, explicou a advogada.